31 de dezembro de 2007
Receita de ano novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de Janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
25 de dezembro de 2007
20 de dezembro de 2007
19 de dezembro de 2007
Boas Festas!
16 de dezembro de 2007
2 de dezembro de 2007
31 de julho de 2007
Filosofia Slow-food
Para combater a cultura do fast-food e de uma vida condicionada pelo stress. O prazer de comer e de beber é algo que se tem vindo a perder com os hábitos actuais. A diversidade e a cultura gastronómica local de cada região tem vindo a ser substituída por uma oferta limitada, de baixa qualidade e, talvez, pouco saudável. Abram-se restaurantes demarcadamente "Slow-food"
We believe that everyone has a fundamental right to pleasure and consequently the responsibility to protect the heritage of food, tradition and culture that make this pleasure possible. Our movement is founded upon this concept of eco-gastronomy – a recognition of the strong connections between plate and planet.
Slow Food is good, clean and fair food. We believe that the food we eat should taste good; that it should be produced in a clean way that does not harm the environment, animal welfare or our health; and that food producers should receive fair compensation for their work.
We consider ourselves co-producers, not consumers, because by being informed about how our food is produced and actively supporting those who produce it, we become a part of and a partner in the production process.
28 de julho de 2007
9 de julho de 2007
22 de maio de 2007
4 de maio de 2007
8 de abril de 2007
21 de março de 2007
Ode à Poesia
Vou de comboio...
Vou
Mecanizado e duro como sou
Neste dia;
– E mesmo assim tu vens, tu me visitas!
Tu ranges nestes ferros e palpitas
Dentro de mim, Poesia!
Vão homens a meu lado distraídos
Da sua condição de almas penadas;
Vão outros à janela, diluídos
Nas paisagens passadas...
E porque hei-de ter eu nos meus sentidos
As tuas formas brancas e aladas?
Os campos, imprecisos, nos meus olhos,
Vão de braços abertos às montanhas;
O mar protesta contra não sei quê;
E eu, movido por ti, por tuas manhas,
A sonhar um painel que se não vê!
Porque me tocas? Porque me destinas
Este cilício vivo de cantar?
Porque hei-de eu padecer e ter matinas
Sem sequer acordar?
Porque há-de a tua voz chamar a estrela
Onde descansa e dorme a minha lira?
Que razão te dei eu
Para que a um gesto teu
A harmonia me fira?
Poeta sou e a ti me escravizei,
Incapaz de fugir ao meu destino.
Mas, se todo me dei,
Porque não há-de haver na tua lei
O lugar do menino
Que a fazer versos e a crescer fiquei?
Tanto me apetecia agora ser
Alguém que não cantasse nem sentisse!
Alguém que visse padecer,
E não visse...
Alguém que fosse pelo dia fora
Neutro como um rapaz
Que come e bebe a cada hora
Sem saber o que faz...
Alguém que não tivesse sentimentos,
Pressentimentos,
E coisas de escrever e de exprimir...
Alguém que se deitasse
No banco mais comprido que vagasse,
E pudesse dormir...
Mas eu sei que não posso.
Sei que sou todo vosso,
Ritmos, imagens, emoções!
Sei que serve quem ama,
E que eu jurei amor à minha dama,
À mágica senhora das paixões.
Musa bela, terrível e sagrada,
Imaculada Deusa do condão:
Aqui vou de longada;
Mas aqui estou, e aqui serás louvada,
Se aqui mesmo me obriga a tua mão!
(Miguel Torga, in "Odes", 1946; "Poesia Completa", 2000)
Ode à Primavera
A vida anda possessa de Poesia!
Anda prenha de mosto!
Ou é da luz do dia,
Ou é da cor do rosto,
Ou então quer abrir-se, neste gosto
De pão com todo o sal que lhe cabia!
Tem narcisos de amor no coração,
Folhas de acanto nos sentidos!
E carícias na mão
A espreitar dos tendões adormecidos!
Toca-se numa pedra, e ela treme!
Murmura-se uma prece, e a boca grita!
A rabiça do arado é como um leme
Sobre a terra que ondula e ressuscita!
Quem avoluma a sombra, ou quem a teme?
Cada presença é um hino que palpita!
E se na estrada alguém discorda e geme,
Ninguém que vai no sonho o acredita!
Serás tu, Primavera?
Tu, com frutos na rama do futuro,
Com sementes nos pés
E flores inúteis sobre cada muro,
Contentes só da graça que tu és!
(Miguel Torga, in "Odes", 1946; "Poesia Completa", 2000)
20 de março de 2007
iRack
16 de março de 2007
Ganhei ...
Um dia deu-me para ler a newsletter a sério (a maior parte das vezes confesso que é na diagonal) e estava lá um passatempo sobre o intercidades. Eu que não sou nada de concursos, naquele dia deu-me para aquilo, e lá escrevi a minha frase promocional (o objectivo era escrever uma frase sobre o intercidades). Então não é que participei e soube hoje que ganhei o passatempo.
Para além do prémio, uma viagem dupla de ida e volta a Évora em 1ª classe, e uma refeição para dois num dos restaurantes da "Rota de Sabores tradicionais", a frase escolhida ainda pode vir a ser utilizada numa campanha de marketing da CP. Por isso, vamos estando atentos porque ainda vamos encontrar uma frase de campanha "made by" me. :)
Resultado do Passatempo Intercidades a todo o vapor.
10 de março de 2007
Viva Portugal!
Mas foi o suficiente para ficar, para sempre, adepto desta modalidade. Porque valoriza o colectivo, a táctica, a entreajuda, o estoicismo. Porque promove o jogo limpo. Porque é desporto.
Fiquei, por isso, feliz pela vitória de Portugal frente ao Uruguai, que nos deixa agora a um pequeno passo do apuramento para o Mundial 2007. O que seria um feito inédito, por duas razões: primeira, porque nunca estivemos num mundial de râguebi, e segunda, porque seríamos a primeira equipa amadora a alcançar uma fase final da prova.
Frases
Pergunto…
É por estas e por outras que estamos (e continuaremos) no cú da Europa! De facto, com gentinha assim, não merecemos mais…
Maçã assada àquela maneira...
9 de março de 2007
Sabem o que é isto?
8 de março de 2007
Dia Internacional da Mulher
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque
Mulher, vou dizer quanto eu te amo
Cantando a flor
Que nós plantamos
Que veio a tempo
Nesse tempo que carece
Dum carinho, duma prece
Dum sorriso, dum encanto
Mulher, imagina o nosso espanto
Ao ver a flor
Que cresceu tanto
Pois no silêncio mentiroso
Tão zeloso dos enganos
Há de ser pura
Como o grito mais profano
Como a graça do perdão
E que ela faça vir o dia
Dia a dia mais feliz
E seja da alegria
Sempre uma aprendiz
Eu te repito
Este meu canto de louvor
Ao fruto mais bendito
Desse nosso amor
3 de março de 2007
A Dança da Lua
Quando eu olhei para o céu
Só vi a primeira estrela
Que cintilou no olhar
Da minha companheira
Dentro da escuridão
Procuro a noite inteira
Onde você está
Ó lua feiticeira
Lunera ó luna lunera
Luna
Lua feiticeira
Ai de quem de mim te escondeu
Lua luar
Lua luar
Dona sol
Renasce e vem dançar
Era tamanho o breu
Nem dava pra ver a estrada
Quando eu peguei na mão
Da minha namorada
Tiro do meu chapéu
Por conta da minha sina
Teu luminoso véu
Ó lua dançarina
Cantado por Eugénia Melo e Castro
23 de fevereiro de 2007
Carta ao Zeca
Tu querias que esta fosse
uma terra da fraternidade,
uma cidade
sem muros nem ameias,
com gente igual por dentro
e gente igual por fora.
Mas tu sabias
como era a lei,
nesta terra em que
quem trepa
no coqueiro
é o rei,
nesta terra em que
eles comem tudo,
comem sempre tudo
e não deixam nada.
Por isso nos chamavas:
Venham mais cinco!
Traz outro amigo também!
E cada um de nós respondia-te,
silenciosamente:
A gente ajuda,
havemos de ser mais,
eu bem sei…
Partiste
faz hoje 20 anos,
mas parece que foi ontem.
Parecerá sempre que foi ontem,
porque as tuas palavras, as tuas canções, o teu exemplo,
continuam connosco,
a dizer-nos que
o que faz falta é avisar a malta,
porque o pão que muitos comem ainda sabe a merda,
porque continua a haver infância que nunca teve infância,
Porque ainda há homens que dormem na valeta.
Que a voz não te esmoreça, vamos lutar, dizias.
É isso que continuaremos a fazer.
Enquanto há força!
21 de fevereiro de 2007
Portugal, um país de serviços?
Acabou por ser uma curiosa sessão de geografia e globalização. É que, por acaso (ou talvez não…), o que mais vi foram peças da China, Índia, Bangladesh, Paquistão, Indonésia, Cambodja, Hong Kong, Vietname, (até de) Macau, Roménia, Bulgária, Polónia, Turquia e Marrocos!
Só, muito a custo, encontrei umas t-shirtezitas portuguesas!
A fruta e os produtos hortícolas vêm de Espanha. A carne, de França, do Brasil, da Argentina.
Somos finalmente um país desenvolvido: já só produzimos serviços!
Temos de reflectir sobre este tema do cartão do cidadão. Estive a ler alguma da informação no sitio oficial e a coisa promete. Encontrei também esta reflexão ...
Think BIG Mr. Socrates!
in Reflexões de um cão com pulgas...
19 de fevereiro de 2007
Humm… maçãs deliciosas!
Ingredientes
- Maçãs
- Açúcar
- Vinho tinto
Confecção
Lava-se as maçãs e, com um descaroçador, tira-se-lhes o pedúnculo e as sementes. Coloca-se as maçãs num tabuleiro próprio para ir ao forno, enche-se os seus orifícios feitos com o descaroçador, com açúcar, que se rega generosamente com vinho tinto o qual, depois de escorrer através dos orifícios, deverá cobrir o fundo do tabuleiro.
Leva-se ao forno, à temperatura de 200º, durante uma hora, e passados uns minutos, para arrefecerem um pouco, estão prontas a saborear. Verdadeiramente deliciosas!
Pode-se adicionar um pouco de água. No orifício de cada maçã pode-se colocar um pauzinho de canela ou passas de uvas. Em vez de vinho tinto, pode-se utilizar vinho do Porto, vinho branco ou mesmo geropiga.
15 de fevereiro de 2007
O Governo vai dispensar mais de três mil jovens que em Março concluem os 12 meses de estágio na função pública. A surpresa não está no fim do estágio, que desde sempre esteve anunciado para Março, mas no facto de o Governo ter optado por dispensar a generalidade dos estagiários. Com efeito, apesar das lamentações de muitos dirigentes que gostariam de manter alguns destes trabalhadores, o Governo já deixou claro que não há margem para contratações.
Assim, depois da formação e da experiência adquirida, que absorveu 35,6 milhões de euros de verbas comunitárias, todos os jovens vão regressar ao desemprego. É certo que levam consigo experiência profissional, mas ficam de novo sem trabalho. E sem rendimento, pois não têm direito a subsídio.
A grande maioria dos estagiários estão afectos aos ministérios das Finanças (783) e do Trabalho (532). Não foi possível obter detalhes da parte das Finanças até à hora de fecho da edição, mas fonte do Ministério de Trabalho especificou que, das 532 vagas iniciais, 70 ficaram por preencher, tendo 28 candidatos abandonado o estágio a meio.
Este programa de estágios baseia-se no Decreto-Lei n.º 326 de 1999 e insere-se nas designadas políticas activas de emprego, que, tal como já anunciou o secretário de Estado do Emprego, Fernando Medina, vão ser revistas. É de admitir que na nova arquitectura não haja lugar para este tipo de estágios que, embora contribuam para suprir necessidades de pessoal na função pública, falham o objectivo central da empregabilidade.
Segundo o despacho publicado a 2 de Dezembro de 2005, este programa visava, por um lado, fornecer apoio técnico específico a projectos complexos e relevantes para a modernização da administração pública (AP) em áreas de competência em falta no quadro dos agentes públicos existente; mas, por outro lado, pretendia possibilitar aos jovens com qualificação de nível superior ou médio um estágio profissional em contexto real de trabalho que facilitasse e promovesse a sua inserção na vida activa (ver objectivos).
Estes estágios garantem um rendimento mensal, acrescido de subsídio de almoço, equivalente a dois salários mínimos nacionais (806 euros) para os estagiários com habilitação de nível superior e de 604 euros para os restantes. No entanto, à semelhança do que se passa com a generalidade dos estágios remunerados, embora descontem para efeitos fiscais, não o fazem relativamente à Segurança Social. Significa isso que os jovens em causa, que a partir de Março estarão no desemprego, não terão direito a qualquer tipo de prestação social.
Caso o conjunto de estagiários se inscreva nos centros de emprego, então é de prever um aumento de 0,7% do número de de-sempregados apurados pelo IEFP. O aumento será mais sensível no segmento dos jovens, na ordem dos 5%, e ainda maior entre os que procuram o primeiro emprego, de 10%.
in Diário de Notícas (15-2-2007)
Há pelo menos duas questões que não se compreende:
1) Porque é que não há margem e flexibilidade para manter algumas pessoas. Afinal é um investimento que está sair porta fora.
2) Porque é estes estagiários não têm direito a protecção social ao desemprego.
E ainda dizem isto e aquilo das empresas privadas. Cada caso é um caso, e nesta situação o governo não me parece estar a ser muito feliz.
10 de fevereiro de 2007
9 de fevereiro de 2007
8 de fevereiro de 2007
7 de fevereiro de 2007
Por falar em donos da música…
Os donos da Musica
Much of the concern over DRM systems has arisen in European countries. Perhaps those unhappy with the current situation should redirect their energies towards persuading the music companies to sell their music DRM-free. For Europeans, two and a half of the big four music companies are located right in their backyard. The largest, Universal, is 100% owned by Vivendi, a French company. EMI is a British company, and Sony BMG is 50% owned by Bertelsmann, a German company. Convincing them to license their music to Apple and others DRM-free will create a truly interoperable music marketplace. Apple will embrace this wholeheartedly.
(excerto retirado de http://www.apple.com/hotnews/thoughtsonmusic/)
5 de fevereiro de 2007
ukulele
Um trabalho feito integralmente num estúdio caseiro (mas mesmo caseiro) mas que saltou directamente para a produção do disco. Claro que é preciso ter ideias, conhecer os métodos
When Ritz got the bass track where he wanted it, he duplicated it and assigned a second bass style to get a hybrid sounde estar convicto das suas capacidades
Despite humble protestations about his ostensible lack of computer savvy, Ritz neatly wrapped up all twelve tracks within an efficient six months of first cracking open the iBook box
Quero com isto dizer que ... está à espera de quê ? É que já devia estar nas bancas o disco "Manifesto Remixed". :)
1 de fevereiro de 2007
Por que voto SIM
O que vamos, portanto, ser chamados a decidir é se o aborto realizado dentro daquelas condições deve ser despenalizado ou se, pelo contrário, deve continuar a ser considerado um crime, como é hoje, sujeito a uma pena de prisão até 3 anos. Não se trata, na verdade, de saber a posição de cada um sobre o aborto que, acredito, ninguém aplaude nem deseja, mesmo quando por circunstâncias da vida, que nunca são certamente fáceis, uma mulher a ele se vê obrigada a recorrer.
Os defensores do Não à despenalização afirmam não pretender que as mulheres que abortam sejam punidas, mas caiem numa irremediável contradição porque, se a actual lei se mantiver, elas continuarão a ser perseguidas, julgadas, punidas, numa palavra, humilhadas. Só é possível deixar de punir quem aborta através da despenalização do aborto, e é isso que o Sim oferece.
Por outro lado, a despenalização do aborto obrigatoriamente realizado “em estabelecimento de saúde legalmente autorizado” é a única forma de pôr cobro à chaga social do aborto clandestino. Mesmo que, de imediato, a sua frequência possa não diminuir, o aborto legal passará a ser feito em segurança, sem pôr em risco a saúde e a vida da mulher, além de permitir decisões mais ponderadas e reflectidas, através de aconselhamento médico e psicológico. Portanto, se o Sim vencer, é um grave problema de saúde pública que poderá ser solucionado ou, pelo menos, muito atenuado. Já a vitória do Não significará a continuação de um drama que, infelizmente, acaba muitas vezes em tragédia.
Quanto ao limite de tempo para a realização de aborto em condições legais, proposto a referendo, 10 semanas é um valor perfeitamente moderado, ficando de resto aquém daquele que é adoptado na grande maioria dos países europeus, que é de 12 semanas. Em todo o caso, trata-se de um período suficiente para que a mulher se dê conta da sua gravidez e possa reflectir sobre a sua eventual interrupção.
Além disso, durante este período, o desenvolvimento do feto é ainda muito incipiente, faltando designadamente o sistema nervoso e o cérebro, pelo que não faz sentido falar-se num ser humano, muito menos numa pessoa. Ainda que a vida intra-uterina mereça respeito e protecção, antes das 10 semanas é, no entanto, insustentável que os direitos do feto prevaleçam ou se equiparem aos direitos e liberdade da mulher. Só as pessoas são titulares de direitos fundamentais.
Por outro lado, a despenalização do aborto nos termos propostos não viola o direito à vida garantido na Constituição, como voltou a decidir o Tribunal Constitucional, na fiscalização preventiva do referendo.
O Não, sob o argumento falacioso da defesa da vida, pretende sobrepor os direitos do feto (num estádio ainda embrionário) aos direitos da pessoa. Se vencer, abortar em qualquer altura continuará a ser crime. O Sim, respeitando a vida, em caso de decisão séria — e acredito que a decisão de abortar é sempre demasiado séria e traumática — aceita a prevalência dos direitos da pessoa (mulher) sobre os direitos de uma forma de vida embrionária (que está muito longe de ser o bebé que, desonestamente, alguns gostam de referir). O seu triunfo despenalizará o aborto até às 10 — pessoalmente acho que seria mais equilibrado até às 12 — semanas.
Quem achar, por convicção religiosa ou outras, que o aborto é um "pecado mortal" ou a violação intolerável de uma vida, não deve praticá-lo. Compreende-se até que tudo faça para persuadir os outros a não o praticarem. Mas não pode impor-lhes a sua moral e as suas convicções. Muito menos servir-se do Estado e do Direito para o fazer, condenando-os à prisão, caso as não sigam. É isso que faz o Não!
A despenalização do aborto, que o Sim defende, não obriga ninguém a actuar contra as suas convicções e a sua consciência.
Por tudo isto, e ainda, porque despenalização do aborto é a solução que melhor garante a liberdade da mulher quanto à sua maternidade e o indispensável tratamento humano das situações de miséria e de humilhação provocadas pelo aborto clandestino,
Por tudo isto, e ainda porque tenho absoluta confiança nas mulheres da minha terra,
Por tudo isto, no dia 11, votarei Sim!
30 de janeiro de 2007
29 de janeiro de 2007
a vida é feita de pequenos nadas
trabalhei de olhos fechados
na terça-feira
acordei impaciente
na quarta-feira
vi os meus braços revoltados
na quinta-feira
lutei com a minha gente
na sexta-feira
soube que ia continuar
no sábado
fui à feira do lugar
mais uma corrida, mais uma viagem
fim-de-semana é para ganhar coragem
Muito boa noite, senhoras e senhores
muito boa noite, meninos e meninas
muito boa noite, Manuéis e Joaquinas
enfim, boa noite, gente de todas as cores
e feitios e medidas
e perdoem-me as pessoas
que ficaram esquecidas
boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas
a vida é feita de pequenos nadas
Somos tantos a não ter quase nada
porque há uns poucos que têm quase tudo
mas nada vale protestar
o melhor ainda é ser mudo
isto diz de um gabinete
quem acha que o casse-tête
é a melhor das soluções
para resolver situações
delicadas
a vida é feita de pequenos nadas
E o que é certo
é que os que têm quase tudo
devem tudo aos que têm muito pouco
mas fechem bem esses ouvidos
que o melhor ainda é ser mouco
isto diz paternalmente
quem acha que é ponto assente
que isto nunca vai mudar
e que o melhor é começar a apanhar
umas chapadas
a vida é feita de pequenos nadas
Ouvi dizer que quase tudo vale pouco
quem o diz não vale mesmo nada
porque não julguem que a gente
vai ficar aqui especada
à espera que a solução
seja servida em boião
com um rótulo: Veneno!
é para tomar desde pequeno
às colheradas
a vida é feita de pequenos nadas
boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas.