Ontem comovi-me como já há muito não acontecia. Foi a enterrar um grande amigo.
Tinha por mim uma sincera admiração, porventura imerecida. A mulher e a filha confidenciaram-me que passava a vida a falar (bem) de mim.
Jamais esquecerei as conversas e cumplicidades que algumas vezes mantivemos. Mesmo nos tempos em que conversar era por si só um acto de rebeldia. Que podia pagar-se caro.
Hoje há festa na aldeia. Como há 40 anos, os rapazes continuam a invocar e a agradecer a protecção do Mártir Santo nas suas aventuras militares. E a verdade é que São Sebastiãozinho parece escutar as suas preces. Ao fim de tanto tempo, se me não falha a memória, só um teve o azar de regressar a casa numa caixa de pinho. Era a altura da guerra colonial.
Há festa, portanto. Rija. Com gaiteiro, foguetes, vinho e comezaina. E o pessoal faz tréguas em relação às "pequenas" crises familiares e à crise do país e dá ao dente. E logo à noite, apesar (ou por via) do frio, à perna.
Eu é que não estou com paciência nem saúde para aturar tanta "alegria".
Ao fim de 32 anos de serviço dedicado e competente (os resultados podem ser conferidos na sementeira de cidadãos que deixei para trás), parece que me vão "avaliar". "Seriamente", dizem. A "seriedade" é tanta que até fixaram cotas para a excelência. Ou seja, nunca poderíamos ser todos excelentes, mesmo que o quiséssemos e a tal tivéssemos direito.
A populaça, incapaz de educar os filhos, ávida de sangue tal qual os plebeus no Coliseu de Roma, aplaude.
A tarde esteve fria mas soalheira.
Agora, o sol afunda-se. O país também. Há muito tempo.
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