23 de fevereiro de 2007

Carta ao Zeca

(com as palavras que ele nos deixou)

Tu querias que esta fosse
uma terra da fraternidade,
uma cidade
sem muros nem ameias,
com gente igual por dentro
e gente igual por fora.
Mas tu sabias
como era a lei,
nesta terra em que
quem trepa
no coqueiro
é o rei,
nesta terra em que
eles comem tudo,
comem sempre tudo
e não deixam nada.
Por isso nos chamavas:
Venham mais cinco!
Traz outro amigo também!
E cada um de nós respondia-te,
silenciosamente:
A gente ajuda,
havemos de ser mais,
eu bem sei…

Partiste
faz hoje 20 anos,
mas parece que foi ontem.
Parecerá sempre que foi ontem,
porque as tuas palavras, as tuas canções, o teu exemplo,
continuam connosco,
a dizer-nos que
o que faz falta é avisar a malta,
porque o pão que muitos comem ainda sabe a merda,
porque continua a haver infância que nunca teve infância,
Porque ainda há homens que dormem na valeta.

Que a voz não te esmoreça, vamos lutar, dizias.
É isso que continuaremos a fazer.
Enquanto há força!
"roubado" ao amigo Maio ; )

21 de fevereiro de 2007

Portugal, um país de serviços?

Como não vou em carnavais — já me chegam os restantes 361 dias de carnaval! —, ontem fui com a Glória dar uma volta pelas lojas de vestuário.
Acabou por ser uma curiosa sessão de geografia e globalização. É que, por acaso (ou talvez não…), o que mais vi foram peças da China, Índia, Bangladesh, Paquistão, Indonésia, Cambodja, Hong Kong, Vietname, (até de) Macau, Roménia, Bulgária, Polónia, Turquia e Marrocos!
Só, muito a custo, encontrei umas t-shirtezitas portuguesas!

A fruta e os produtos hortícolas vêm de Espanha. A carne, de França, do Brasil, da Argentina.

Somos finalmente um país desenvolvido: já só produzimos serviços!

Temos de reflectir sobre este tema do cartão do cidadão. Estive a ler alguma da informação no sitio oficial e a coisa promete. Encontrei também esta reflexão ...



Think BIG Mr. Socrates!

Ouse pensar em grande, Senhor Sócrates! Não basta pensar num "Citizen Card" que englobe Cartão de Contribuinte, Cartão de Eleitor, Bilhete de Identidade e Cartão de Utente da Segurança Social. Vamos além disso, que o país precisa e é este o momento de avançar para tudo o que lá couber dentro. Assim de repente estou a lembrar-me do meu cartão de milhas Vitória, o cartão do Modelo, o de dador de sangue, todos os meus cartões de múltiplas gasolineiras, os das pizzarias, aqueles que à décima pizza me dão uma grátis. O dos cinemas da Medeia e quem sabe, num gesto absolutamente inovador, o calendário de plástico do Oculista Central de Vendas Novas que trago comigo e não sei porquê. E o do Benfica, Senhor Sócrates? Já viu bem as potencialidades disto? Vender kits de cidadão que permitam descontos em gasolina, pizzas, impostos, segurança social. E isto é só o começo. Campanhas de pontos! Um tipo vai votar e acumula pontos. Um tipo vai a uma consulta do médico de família e ganha milhas. Com um bom planeamento e um catálogo policromado, em bom papel, os cidadãos poderiam, quem sabe, trocar pontos por cargos. Vejo a luz, Senhor Primeiro-Ministro. Vou começar a planear os meus actos cívicos. Conto ter a Grã Cruz da Ordem de Cristo dentro de cinco anitos...

in Reflexões de um cão com pulgas...

19 de fevereiro de 2007

Humm… maçãs deliciosas!

Maçãs à (minha) maneira

Ingredientes
  • Maçãs
  • Açúcar
  • Vinho tinto

Confecção


Lava-se as maçãs e, com um descaroçador, tira-se-lhes o pedúnculo e as sementes. Coloca-se as maçãs num tabuleiro próprio para ir ao forno, enche-se os seus orifícios feitos com o descaroçador, com açúcar, que se rega generosamente com vinho tinto o qual, depois de escorrer através dos orifícios, deverá cobrir o fundo do tabuleiro.
Leva-se ao forno, à temperatura de 200º, durante uma hora, e passados uns minutos, para arrefecerem um pouco, estão prontas a saborear. Verdadeiramente deliciosas!

Pode
-se adicionar um pouco de água. No orifício de cada maçã pode-se colocar um pauzinho de canela ou passas de uvas. Em vez de vinho tinto, pode-se utilizar vinho do Porto, vinho branco ou mesmo geropiga.

15 de fevereiro de 2007

Mais de 3000 estagiários dispensados em Março

O Governo vai dispensar mais de três mil jovens que em Março concluem os 12 meses de estágio na função pública. A surpresa não está no fim do estágio, que desde sempre esteve anunciado para Março, mas no facto de o Governo ter optado por dispensar a generalidade dos estagiários. Com efeito, apesar das lamentações de muitos dirigentes que gostariam de manter alguns destes trabalhadores, o Governo já deixou claro que não há margem para contratações.

Assim, depois da formação e da experiência adquirida, que absorveu 35,6 milhões de euros de verbas comunitárias, todos os jovens vão regressar ao desemprego. É certo que levam consigo experiência profissional, mas ficam de novo sem trabalho. E sem rendimento, pois não têm direito a subsídio.

A grande maioria dos estagiários estão afectos aos ministérios das Finanças (783) e do Trabalho (532). Não foi possível obter detalhes da parte das Finanças até à hora de fecho da edição, mas fonte do Ministério de Trabalho especificou que, das 532 vagas iniciais, 70 ficaram por preencher, tendo 28 candidatos abandonado o estágio a meio.

Este programa de estágios baseia-se no Decreto-Lei n.º 326 de 1999 e insere-se nas designadas políticas activas de emprego, que, tal como já anunciou o secretário de Estado do Emprego, Fernando Medina, vão ser revistas. É de admitir que na nova arquitectura não haja lugar para este tipo de estágios que, embora contribuam para suprir necessidades de pessoal na função pública, falham o objectivo central da empregabilidade.

Segundo o despacho publicado a 2 de Dezembro de 2005, este programa visava, por um lado, fornecer apoio técnico específico a projectos complexos e relevantes para a modernização da administração pública (AP) em áreas de competência em falta no quadro dos agentes públicos existente; mas, por outro lado, pretendia possibilitar aos jovens com qualificação de nível superior ou médio um estágio profissional em contexto real de trabalho que facilitasse e promovesse a sua inserção na vida activa (ver objectivos).

Estes estágios garantem um rendimento mensal, acrescido de subsídio de almoço, equivalente a dois salários mínimos nacionais (806 euros) para os estagiários com habilitação de nível superior e de 604 euros para os restantes. No entanto, à semelhança do que se passa com a generalidade dos estágios remunerados, embora descontem para efeitos fiscais, não o fazem relativamente à Segurança Social. Significa isso que os jovens em causa, que a partir de Março estarão no desemprego, não terão direito a qualquer tipo de prestação social.

Caso o conjunto de estagiários se inscreva nos centros de emprego, então é de prever um aumento de 0,7% do número de de-sempregados apurados pelo IEFP. O aumento será mais sensível no segmento dos jovens, na ordem dos 5%, e ainda maior entre os que procuram o primeiro emprego, de 10%.

in Diário de Notícas (15-2-2007)

Há pelo menos duas questões que não se compreende:
1) Porque é que não há margem e flexibilidade para manter algumas pessoas. Afinal é um investimento que está sair porta fora.
2) Porque é estes estagiários não têm direito a protecção social ao desemprego.

E ainda dizem isto e aquilo das empresas privadas. Cada caso é um caso, e nesta situação o governo não me parece estar a ser muito feliz.

Amplitude térmica: 50 graus!!!

Rovaniemi, Lordin Aukio, Agosto de 2006, 25º

Rovaniemi, Lordin Aukio, Fevereiro de 2007, - 25º

10 de fevereiro de 2007

9 de fevereiro de 2007

Manifesto

Há 26 anos era assim!…
P'rock der e vier…

Zé Tovim (baixo e coros), Chico (sintetizador ARP Omni e coros),
Jota (bateria) e Aurélio (guitarra, voz solo e autor)

7 de fevereiro de 2007

Por falar em donos da música…

Vou deixar aqui um podcast onde irei postando músicas dos Manifesto.
Por estas, ao menos, não pago direitos à Apple!

Os donos da Musica

A Apple tem sido alvo de fortes críticas por causa do sistema de protecção proprietário utilizado na venda de música online através do seu portal iTunes. Num artigo de análise feito pela própria, chega-nos a informação que afinal, esta propriedade ou protecção vem do contrato que tem com as quatros maiores produtoras de música no mundo (Universal, Sony BMG, Warner and EMI) que a obriga a introduzir este mecanismo de protecção de propriedade.

Much of the concern over DRM systems has arisen in European countries. Perhaps those unhappy with the current situation should redirect their energies towards persuading the music companies to sell their music DRM-free. For Europeans, two and a half of the big four music companies are located right in their backyard. The largest, Universal, is 100% owned by Vivendi, a French company. EMI is a British company, and Sony BMG is 50% owned by Bertelsmann, a German company. Convincing them to license their music to Apple and others DRM-free will create a truly interoperable music marketplace. Apple will embrace this wholeheartedly.
(excerto retirado de http://www.apple.com/hotnews/thoughtsonmusic/)

5 de fevereiro de 2007

ukulele

Vem na secção pro da Apple e apresenta a história da última produção de Lyle Ritze um tocador da velha guarda de ukulele.
Um trabalho feito integralmente num estúdio caseiro (mas mesmo caseiro) mas que saltou directamente para a produção do disco. Claro que é preciso ter ideias, conhecer os métodos
When Ritz got the bass track where he wanted it, he duplicated it and assigned a second bass style to get a hybrid sound
e estar convicto das suas capacidades

Despite humble protestations about his ostensible lack of computer savvy, Ritz neatly wrapped up all twelve tracks within an efficient six months of first cracking open the iBook box

Quero com isto dizer que ... está à espera de quê ? É que já devia estar nas bancas o disco "Manifesto Remixed". :)

1 de fevereiro de 2007

Por que voto SIM

Comecemos por recordar uma vez mais a pergunta do referendo do próximo dia 11: “Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?”.

O que vamos, portanto, ser chamados a decidir é se o aborto realizado dentro daquelas condições deve ser despenalizado ou se, pelo contrário, deve continuar a ser considerado um crime, como é hoje, sujeito a uma pena de prisão até 3 anos. Não se trata, na verdade, de saber a posição de cada um sobre o aborto que, acredito, ninguém aplaude nem deseja, mesmo quando por circunstâncias da vida, que nunca são certamente fáceis, uma mulher a ele se vê obrigada a recorrer.
Os defensores do Não à despenalização afirmam não pretender que as mulheres que abortam sejam punidas, mas caiem numa irremediável contradição porque, se a actual lei se mantiver, elas continuarão a ser perseguidas, julgadas, punidas, numa palavra, humilhadas. Só é possível deixar de punir quem aborta através da despenalização do aborto, e é isso que o Sim oferece.

Por outro lado, a despenalização do aborto obrigatoriamente realizado “em estabelecimento de saúde legalmente autorizado” é a única forma de pôr cobro à chaga social do aborto clandestino. Mesmo que, de imediato, a sua frequência possa não diminuir, o aborto legal passará a ser feito em segurança, sem pôr em risco a saúde e a vida da mulher, além de permitir decisões mais ponderadas e reflectidas, através de aconselhamento médico e psicológico. Portanto, se o Sim vencer, é um grave problema de saúde pública que poderá ser solucionado ou, pelo menos, muito atenuado. Já a vitória do Não significará a continuação de um drama que, infelizmente, acaba muitas vezes em tragédia.

Quanto ao limite de tempo para a realização de aborto em condições legais, proposto a referendo, 10 semanas é um valor perfeitamente moderado, ficando de resto aquém daquele que é adoptado na grande maioria dos países europeus, que é de 12 semanas. Em todo o caso, trata-se de um período suficiente para que a mulher se dê conta da sua gravidez e possa reflectir sobre a sua eventual interrupção.
Além disso, durante este período, o desenvolvimento do feto é ainda muito incipiente, faltando designadamente o sistema nervoso e o cérebro, pelo que não faz sentido falar-se num ser humano, muito menos numa pessoa. Ainda que a vida intra-uterina mereça respeito e protecção, antes das 10 semanas é, no entanto, insustentável que os direitos do feto prevaleçam ou se equiparem aos direitos e liberdade da mulher. Só as pessoas são titulares de direitos fundamentais.
Por outro lado, a despenalização do aborto nos termos propostos não viola o direito à vida garantido na Constituição, como voltou a decidir o Tribunal Constitucional, na fiscalização preventiva do referendo.
O Não, sob o argumento falacioso da defesa da vida, pretende sobrepor os direitos do feto (num estádio ainda embrionário) aos direitos da pessoa. Se vencer, abortar em qualquer altura continuará a ser crime. O Sim, respeitando a vida, em caso de decisão séria — e acredito que a decisão de abortar é sempre demasiado séria e traumática — aceita a prevalência dos direitos da pessoa (mulher) sobre os direitos de uma forma de vida embrionária (que está muito longe de ser o bebé que, desonestamente, alguns gostam de referir). O seu triunfo despenalizará o aborto até às 10 — pessoalmente acho que seria mais equilibrado até às 12 — semanas.

Quem achar, por convicção religiosa ou outras, que o aborto é um "pecado mortal" ou a violação intolerável de uma vida, não deve praticá-lo. Compreende-se até que tudo faça para persuadir os outros a não o praticarem. Mas não pode impor-lhes a sua moral e as suas convicções. Muito menos servir-se do Estado e do Direito para o fazer, condenando-os à prisão, caso as não sigam. É isso que faz o Não!
A despenalização do aborto, que o Sim defende, não obriga ninguém a actuar contra as suas convicções e a sua consciência.

Por tudo isto, e ainda, porque despenalização do aborto é a solução que melhor garante a liberdade da mulher quanto à sua maternidade e o indispensável tratamento humano das situações de miséria e de humilhação provocadas pelo aborto clandestino,

Por tudo isto, e ainda porque tenho absoluta confiança nas mulheres da minha terra,

Por tudo isto, no dia 11, votarei Sim!